Em março, o Conecta Médico completa 1 ano. Para comemorar a data, o blog conversou com Carlos Pappini, CEO da plataforma. Ele falou sobre como a telemedicina pode ajudar a área da saúde a superar grandes desafios, sobre a nova jornada médico-paciente dentro do contexto digital e muito mais. Confira a entrevista!

 

1. A área da saúde enfrenta diversos desafios no Brasil. Podemos citar alguns: o envelhecimento da população e o consequente aumento de demanda, a dificuldade de prestar atendimento adequado para um país de tamanho continental e a inflação do setor que é a quarta mais alta do mundo. Como você vê o papel da telemedicina dentro deste contexto?

 

São vários pontos combinados nesta mesma pergunta que se entrelaçam no desafio de buscarmos um sistema de saúde mais sustentável e acessível para toda a população. Talvez, a telemedicina seja uma das primeiras tecnologias que não agregam custo adicional. Pelo contrário, ela possibilita reduzir gastos do setor, já que não demanda investimento em estruturas físicas e ainda garante um melhor aproveitamento da carga horária dos profissionais da saúde e a diminuição de custos indiretos, como o de transporte.


Com a evolução das plataformas no sentido de realizar a integração com outros sistemas de saúde e devices de monitoramento do paciente, os famosos IOTs (internet das coisas), a telemedicina conseguirá, cada vez mais, apresentar desfechos positivos e efetivos que gerarão melhores resultados clínicos para os pacientes, ampliando a capacidade do sistema de saúde de atender demandas daqueles que vivem distantes dos grandes centros e capitais. 

 

Uma jornada híbrida otimizaria a agenda do profissional de saúde. 

2. Você tem grande experiência na área da saúde e já desenvolvia o Conecta Médico antes da pandemia começar. Mas com a COVID 19 houve um boom de health techs. O próprio Conecta Médico cresceu muito, pois se consolidou como alternativa de atendimento médico durante o afastamento social. Mas, depois que vencermos o coronavírus, você acha que a telemedicina continuará com tanto protagonismo assim?

 

O processo da pandemia apenas antecipou uma etapa, que é a incorporação das ferramentas e metodologias digitais na saúde. Este é um caminho irreversível e que irá se expandir cada vez mais com o aculturamento e experiências de sucesso acumuladas pelos médicos, pacientes e outros profissionais da saúde. Lembrando que o conceito é antigo e já praticado, mas que as novas tecnologias trouxeram maior estrutura e formalização da metodologia digital.
 

3. Como será a jornada médico-paciente no futuro? As relações acontecerão pelo meio digital ou de forma presencial? O que mudará no perfil do médico e do paciente com a experiência do atendimento remoto?

 

O mundo caminha cada vez mais para termos jornadas híbridas, usufruindo o que cada uma oferece de melhor. Quantas vezes, enquanto pacientes, tivemos que nos deslocar por quase uma hora para realizar uma consulta de retorno que teve duração de 10 minutos para troca de um receituário? Imagine que, por teleconsulta, esta demanda seria prontamente atendida, economizando tempo e custos de deslocamento.

 

Recente pesquisa do Conselho Federal de Medicina traçou o perfil do médico no país e apontou que quase 30% deles possuem 5 ou mais vínculos empregatícios simultâneos para poderem compor suas receitas mensais. Imagine o quanto esta jornada do profissional de saúde se torna estafante, considerando o tempo de deslocamento entre os locais. Uma jornada híbrida minimizaria muito o cenário, reduzindo o desgaste profissional e proporcionando a otimização da agenda para melhor desfrute social e pessoal.

 

4. Como fica o papel da indústria farmacêutica diante deste novo cenário? Antes era comum presenciarmos representantes visitando consultórios médicos. E agora como será a jornada de negócios da indústria farmacêutica diante deste processo de transformação digital?

 

A indústria farmacêutica é um dos grandes players da saúde. Talvez, seja um dos poucos agentes que possui contato com todos os stakeholders de uma forma direta. A indústria pode incentivar a implementação de uma jornada híbrida para que os pacientes tenham acesso às medicações. Um exemplo é a entrega de medicamentos de alta complexidade na casa dos pacientes, uma vez subsidiados pelas operadoras de saúde e após a realização de uma teleconsulta.

 

O desafio maior para a indústria será como manter sua comunicação de marcas dos produtos e inovações científicas com os médicos que adotam as metodologias digitais. Cabem às plataformas de telemedicina e novos meios de interação médico-paciente disponibilizar mídias exclusivas e segmentadas, de acordo com a legislação para os diferentes públicos-alvo.

 

5. Muitos brasileiros ainda têm o costume de procurar assistência médica somente quando estão doentes, além de ter o hábito perigoso de se automedicar. Mas sabemos que o segredo da longevidade e qualidade de vida está relacionado à saúde preventiva, alimentação saudável e prática de exercícios físicos. Como as novas tecnologias podem nos auxiliar neste sentido?

 

A telemedicina e os novos recursos digitais serão peça chave para a mudança de cultura de uma saúde curativa para uma preventiva, não apenas pela ampliação do acesso à saúde, mas pela possibilidade que os pacientes terão de se conectar em tempo real com os cuidados e profissionais da saúde. Outro fator é levar a gestão da saúde para cada pessoa, de forma individualizada, sem perder o conceito de escala que viabiliza os custos. Novos tratamentos poderão, por exemplo, adotar uma metodologia em formato gameficado capaz de orientar e engajar os pacientes na adesão aos medicamentos e principalmente na mudança para hábitos mais saudáveis

 

6. O Brasil tem o maior sistema público de saúde do mundo, o SUS. Ele oferece atendimento amplo em termos de alcance e de serviços que vão desde a atenção básica até cirurgias caras, como transplantes. Para você, quais impactos a telemedicina pode causar no SUS?

 

O SUS é fantástico e orgulho de todos nós brasileiros. As metodologias digitais ampliarão ainda mais a capacidade de atender toda a população. Imaginem o potencial de termos o nosso Programa de Saúde da Família também integrado em teleconsultas? Será uma grande revolução do acesso e cuidado, inclusive e principalmente, para as áreas mais remotas.

 

7. Mesmo com um ano de história, o Conecta Médico já possui milhares de médicos e pacientes que se beneficiam de uma plataforma totalmente gratuita, que não onera profissionais de saúde e veio para democratizar o acesso à saúde.  Quais são os próximos passos deste projeto?

 

Estamos muito orgulhosos de tudo que construímos. A cada novo médico que se credencia, a cada novo paciente que confia em nós para atender sua necessidade de consulta, nossa responsabilidade aumenta. Estamos apenas no início desta jornada. Nós investimos fortemente em programas de educação continuada em telemedicina, além de estarmos sempre inovando e agregando novas funcionalidades à plataforma que permitam médicos e pacientes estarem cada vez mais conectados. 

 

Novos produtos serão lançados, como o Linha de Cuidados, que serão pacotes baseados em protocolos clínicos para tratarem patologias específicas. E, por último, avançaremos no segmento da saúde suplementar, ofertando ao mercado uma plataforma mais aderente ao atendimento dos beneficiários de cada operadora de saúde, não apenas na oferta de teletriagem, mas, sim, de um serviço híbrido que complementa as necessidades de atendimento da carteira de beneficiários, sejam em demandas agudas e, principalmente, para o grupo de pacientes com doenças crônicas não transmissíveis. 

 

Internamente, ampliaremos o nosso quadro de colaboradores fortalecendo uma cultura aberta, diversa e inovadora. Ou seja, 2021 será um ano de muito trabalho para ajudarmos na transformação do nosso sistema de saúde para melhor.